sábado, 15 de outubro de 2011

A crise

À dois dias atrás, quando ia a passear pela Avenida da Liberdade a caminho dos quiosques (matéria para outro post), tive pela primeira vez contacto com a crise, propriamente dita. No meio de muitos sem abrigos que dormem por aquela Avenida, estava um casal, sentado numa cama de cartão. Mas não era um casal qualquer. Ele de camisa, deitado com a mão na testa, certamente a pensar nos problemas. E ela sentada a lavar roupa que estava cuidadosamente pendurada ao longo de uns 2 metros pelas protecções das flores. Os dois com óptimo aspecto, com ar de quem tinha andado a procura de emprego e no fim não tinha para onde ir. Foi um choque para mim, porque nunca tinha visto nada assim. Pessoas que podiam perfeitamente fazer parte das minhas relações a dormir ao relento. Passei por eles pela segunda vez e tentei não olhar, não porque me tivessem sido indiferentes ou porque tivesse vergonha. Mas porque achei que os devia poupar de mais um olhar de pena depois dos milhares olhares reprovadores que devem receber todos os dias. Ou pelo menos desde que ali foram parar. E a verdade é que me aptecia ir lá, perguntar o que é que se passou, se posso ajudar, mas não o faço porque não quero expor ninguém a esse tipo de embaraço, e porque muito provavelmente nem me iriam responder.
Não sei em que circunstâncias é que aquele casal foi parar a rua, não sei se foram irresponsáveis ao ponto de correrem esse risco, mas o que eu sei é que não se devia sequer correr o risco de chegar a esse ponto. Mas mais que isso devia ser possível ajudá-los, de uma maneira que não seja só dar-lhes dinheiro. Como diz o provérbio chinês, não lhes dar o peixe mas ensiná-los a pescar. Ando a pensar nisso.

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